Os papas falam sobre a Renovação Carismática - Parte I

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JOÃO XXIII

Oração pelo Vaticano II

Podemos dizer que João XXIII foi precursor da Renovação Carismática. Sua é esta oração que compôs como preparação espiritual da Igreja ao trabalho do Concílio Vaticano II:

"Repita-se no povo cristão o espetáculo dos Apóstolos reunidos em Jerusalém, depois da ascensão de Jesus ao céu, quando a Igreja nascente se encontrou reunida em comunhão de pensamento e de oração com Pedro e em torno de Pedro, pastor dos cordeiros e das ovelhas.

Digne-se o Divino Espírito escutar da forma mais consoladora a oração que sobe a Ele de todas as partes da terra. Que Ele renove em nosso tempo os prodígios como de um novo Pentecostes, e conceda que a Santa Igreja, permanecendo unânime na oração, com Maria, a Mãe de Jesus, e sob a direção de Pedro, dilate o Reino do Divino Salvador, Reino de Verdade e Justiça, Reino de amor e de paz".


PAULO VI

Primeira Conferência Internacional de Líderes
Em Grottaferrata, perto de Roma, de 8 a 12 de outubro de 1973 teve lugar a Primeira Conferência Internacional de Líderes da Renovação Carismática. Assistiram 120 dirigentes que procediam de 34 países. Entre eles contavam-se dois bispos. A Conferência dialogou em torno dos temas: Comunicação e união, liderança responsável, preparação para o Batismo no Espírito Santo, e unidade a nível de cada país. Além disso, houve vários seminários e mesas-redondas, e foi elaborado um documento cuja publicação foi aprovada pela Congregação da Defesa da Fé.

Os delegados na audiência geral dada por Paulo VI no dia 10 de outubro entristeceram-se com o fato de que na audiência pontifícia não se tenha mencionado a Renovação; mas sua tristeza se mudou em gozo quando, ao terminar a audiência, se convidou, pelos alto-falantes, um grupo deles para que passasse a conversar reservadamente com o Papa. Foram designadas 13 pessoas, de 8 países. O Papa lhes dirigiu um breve discurso, que foi publicado no dia seguinte no L'Osservatore Romano, e dialogou espontaneamente com todos eles. No dia seguinte o Papa recebeu o Cardeal Suenens e se informou mais amplamente sobre a Renovação. As palavras do Sumo Pontífice na audiência do dia 10 foram as seguintes:

A Renovação na Igreja

"Estamos sumamente interessados no que estais fazendo. Ouvimos falar muito sobre o que acontece entre vós e nos regozijamos. Temos muitas perguntas e fazer-vos, mas não temos tempo."

Dirigimos agora uma palavra aos Congressistas de Grottaferrata: "Alegramo-nos convosco, queridos amigos, pela renovação de vida espiritual que hoje em dia se manifesta na Igreja, sob diferentes formas e em diferentes ambientes."

Nesta renovação aparecem certas notas comuns:

- O gosto por uma oração profunda, pessoal e comunitária;

- Uma volta à contemplação e uma ênfase colocada na palavra de Deus;

- O desejo de entregar-se totalmente a Cristo;

- Uma grande disponibilidade às inspirações do Espírito Santo;

- Uma leitura mais assídua da Escritura;

- Uma ampla abnegação fraterna;

- Uma vontade de prestar uma colaboração aos serviços da Igreja.

Em tudo isso, podemos conhecer a obra misteriosa e discreta do Espírito que é a alma da Igreja.A vida espiritual consiste antes de tudo no exercício das virtudes de fé, esperança e caridade. Ela encontra na profissão de sua fé seu fundamento.

Esta foi confiada aos pastores da Igreja para que a mantenham intacta e ajudem a desenvolvê-la em todas as atividades da comunidade cristã. A vida espiritual dos fiéis está, pois, sob a responsabilidade pastoral ativa de cada bispo em sua própria diocese. É particularmente oportuno recordar isso na presença destes fermentos de renovação que tantas esperanças suscitam.

Por outro lado, mesmo nas melhores experiências de renovação, a cizânia pode misturar-se com o trigo. Portanto, uma obra de discernimento é indispensável; a qual corresponde àqueles que têm esta missão da Igreja: "Cabe-lhes especialmente não extinguir o Espírito, mas provar tudo e ficar com o que é bom" (cfr. 1 Tim 5,12 e 19-22) (Lumen Gentium, n. 12). Deste modo progride o bem comum da Igreja ao qual se ordenam os dons do Espírito (cfr. 1Cor. 12,7).

"Faremos oração para que sejais cheios da plenitude do Espírito e vivais em sua alegria e santidade. Pedimos vossas orações e nos lembraremos de vós na Missa."

Catequese de 1974


Em 10 de outubro de 1974, quando em Roma se celebrava o Sínodo dos bispos, o Papa Paulo VI se referiu à Renovação Carismática. Nesses dias tinha aparecido o livro de Cardeal Suenens intitulado: "Um Novo Pentecostes".* O Papa o mencionou explicitamente, e completou o texto que trazia escrito com um extenso improviso. Os parágrafos improvisados foram gravados e difundidos pela Rádio Vaticana.

* Traduzido para o português por L.J. Gaio, sob o título: O Espírito Santo, Nossa Esperança; Ed. Paulinas, São Paulo, 1975.

O Novo Pentecostes
"A Igreja vive pela infusão do Espírito Santo, infusão que chamamos graça, isto é, Dom por excelência, caridade, amor do Pai comunicado a nós em virtude da Redenção realizada por Cristo, no Espírito Santo. Recordemos a síntese de Santo Agostinho: "o que a alma é para o corpo do homem, isso é o Espírito Santo para o Corpo de Cristo que é a Igreja".

O Sopro Vital da Graça

Verdade conhecida. Todos ouvimos repetir e proclamar pelo recente Concílio: "Consumada a obra que o Pai confiara ao Filho para que Ele a realizasse sobre a terra, no dia de Pentecostes foi enviado o Espírito Santo para santificar continuamente a Igreja e assim dar aos crentes acesso ao Pai, por Cristo, num só Espírito. Este é o Espírito de vida ... O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis, como num templo: neles ora e dá testemunho de que são filhos adotivos. Leva a Igreja ao conhecimento da verdade total, unifica-a na comunhão e no ministério, dota-a e dirige-a com diversos dons hierárquicos e carismáticos, e embeleza-se com seus frutos.

Com a força do evangelho a rejuvenesce e incessantemente a renova" ... (Lumen Gentium 4).

Um Novo Pentecostes


O que agora devemos afirmar é a necessidade da graça, isto é, de uma intervenção divina que supera a ordem natural, tanto para nossa salvação pessoal, como para o cumprimento do plano de redenção em favor de toda a Igreja e da humanidade que a misericórdia de Deus chama à salvação... A necessidade da graça supõe uma carência imprescindível por parte do homem, supõe a necessidade de que o prodígio de Pentecostes tenha que continuar na história da Igreja e do mundo, e isso na dupla forma na qual o dom do Espírito Santo se concede aos homens: Primeiro para santificá-los; esta é a forma primária e indispensável para que o homem se converta em objeto de amor de Deus.

Mas agora eu diria que a curiosidade - mas uma curiosidade muito legítima e bela - se fixa em outro aspecto. O Espírito Santo quando vem outorga dons. Já conhecemos os sete dons do Espírito Santo. Mas dá também outros dons que agora se chamam... bem (agora ... sempre) se chamam carismas. Que quer dizer carisma? Quer dizer dom: Quer dizer uma graça. São graças particulares dadas a alguém para outro, para que faça o bem. Alguém recebe o carisma da sabedoria para que chegue a ser mestre; e recebe o dom dos milagres para que possa realizar atos que, através da maravilha e da admiração, chamem à fé etc.

Agora essa forma carismática de dons que são dons gratuitos e de si não necessários, mas dados pela superabundância da economia do Senhor, que quer tornar a Igreja mais rica, mais animada e mais capaz de autodefinir-se e autodocumentar-se, denominar-se precisamente "a efusão dos carismas". E hoje se fala muito disso. E, dada a complexidade e a delicadeza do tema, só podemos desejar que estes dons venham e oxalá venham em abundância. Que além da graça haja carisma que também hoje a Igreja de Deus possa possuir e obter.

Os Santos, especialmente Santo Ambrósio e São João Crisóstomo, isto é, os padres, disseram que os carismas foram abundantes nos primeiros tempos.

O Senhor deu esta, chamemo-la grande chuva de dons, para animar a Igreja, para fazê-la crescer, para afirmá-la, para sustentá-la. E depois a economia desses dons foi, diria eu, mais discreta, mais...econômica. Mas sempre existiram santos que realizaram prodígios, homens excepcionais existirem sempre na Igreja. Oxalá o Senhor aumente ainda mais a chuva de carismas para tornar fecunda, formosa e maravilhosa a Igreja, e capaz de impor-se até à atenção e ao estupor do mundo profano, do mundo laicizante.

Citaremos um livro que foi escrito precisamente neste tempo pelo cardeal Suenens, que se intitula: "Une nouvelle Pentecôte?" "Um novo Pentecostes?". Ele descreve e justifica esta expectativa que pode ser realmente uma providência histórica na Igreja, de uma difusão maior de graças sobrenaturais, que se chamam carismas.

Agora nos limitamos a recordar as principais condições que devem dar-se no homem para receber o dom de Deus por excelência que é precisamente o Espírito Santo; sabemos que Ele "sopra onde quer", mas não rejeita o desejo de quem o espera, o chama e o acolhe (também quando este mesmo desejo procede de uma íntima inspiração sua). Quais são estas condições? Simplifiquemos a difícil resposta dizendo que a capacidade de receber este "doce hóspede da alma" exige fé, exige a humildade e o arrependimento, exige normalmente um ato sacramental; e na prática de uma vida religiosa requer o silêncio, o recolhimento, a escuta, e sobretudo a invocação, a oração, como fizeram os Apóstolos com Maria no Cenáculo. Saber esperar, saber invocar: "Vinde Espírito Criador, vinde Espírito Santo".

Se a Igreja souber entrar numa fase de tal predisposição para a nova e perene vinda do Espírito Santo, Ele, a "luz dos corações", não tardará em conceder-se, para gozo, luz, fortaleza, virtude apostólica e caridade unitiva de que hoje a Igreja tem necessidade. Assim seja. Com nossa bênção apostólica.

Formação Teológica e Bíblica

Queridos filhos e filhas (de língua inglesa):

Com muito prazer vos saudamos no amor de Jesus Cristo e em seu nome vos oferecemos uma palavra de alento e exortação para vossas vidas cristãs.Estais reunidos aqui em Roma, debaixo do signo do Ano Santo. Juntamente com toda a Igreja vos esforçais pela renovação, renovação espiritual, renovação autêntica, renovação católica, renovação no Espírito Santo. Agrada-nos ver sinais desta renovação: gosto pela oração, contemplação, louvor a Deus, atenção á graça do Espírito Santo e leitura mais assídua das Sagradas Escrituras. Sabemos também que desejais abrir vossos corações para a reconciliação com Deus e com vossos semelhantes.

A Vida Sacramental


Para todos nós, esta renovação e esta reconciliação são um desenvolvimento ulterior da graça da adoção divina, a graça do nosso batismo sacramental "em Cristo Jesus" e "em sua morte" (Rom 6,3) com o fim de "viver uma vida nova" (v. 4).

Daí sempre muita importância ao sacramento do batismo e às exigências que ele impõe. São Paulo é muito claro: "assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor" (v. 11). Este é o grande desafio da vida sacramental cristã, na qual temos que alimentar-nos com o Corpo e Sangue de Cristo, renovar-nos com o sacramento da penitência, fortalecer-nos com o sacramento da confirmação e confortar-nos com a oração humilde e perseverante. Este é o chamado para que abrais os vossos corações aos irmãos necessitados. Não há limites para o desafio do amor. Os pobres, os necessitados, os aflitos e os que sofrem no mundo e a vosso lado, todos vos dirigem seu clamor como irmãos em Cristo, pedindo-vos a prova de vosso amor, pedindo a palavra de Deus, pedindo pão, pedindo vida. Querem ver um reflexo do amor imolado e generoso do próprio Cristo ao pai e aos irmãos.

Autenticidade Cristã

Sim, queridos filhos e filhas, é desejo de Cristo que o mundo veja vossas boas obras, a bondade de vossos atos, a prova de vossas vidas cristãs e que glorifique ao pai que está nos céus (Mt 5,16). Isto é renovação espiritual de verdade e somente pode conseguir-se mediante o Espírito Santo. Por isso não cessamos de exortar-vos veementemente a "aspirar pelos melhores dons" (1Cor 12,31). Este foi nosso pensamento ontem quando dissemos na solenidade de Pentecostes: "Sim, esta é uma data de alegria, mas também de resoluções e propósitos: Abrir-nos ao Espírito Santo, eliminar tudo o que se opõe à Sua ação e proclamar, na autenticidade cristã de nossa vida diária, que "Jesus é o Senhor".

(Audiência de 19 de maio de 1975)
http://www.cleofas.com.br/ver_conteudo.aspx?m=doc&cat=88&scat=119&id=6743



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