A perseguição dos cristãos pelo Império Romano

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Na aula passada, foi estudado o ambiente no qual surgiu o cristianismo: o Império Romano, bem como a cultura do helenismo, a chamada pax augustana, ou seja, o momento de paz e relativa tranquilidade na qual o cristianismo floresceu e que tornou possível a sua expansão. Esse mesmo Império foi o primeiro adversário sério que o cristianismo teve de enfrentar. Esta aula versará sobre a perseguição aos cristãos.
O cristianismo começou a ser perseguido pelos judeus. A chamada excomunhão dos cristãos deu-se porque os cristãos foram considerados traidores do judaísmo. Todavia, a perseguição ganhou relevância história somente quando passou a ser feita pelos imperadores romanos. Ela se encerrou no ano de 313 d.C, quando Constantino tornou-se o primeiro imperador romano assinou o Édito de Milão.
Durante os primeiros séculos alguns fatos tornaram-se notórios na persecução, o primeiro a ser citado foi a perseguição de Nero. Dono de uma moral absolutamente perversa, o imperador Nero não era amado pelo povo. No ano 64 d.C, houve um grande incêndio em Roma e alguns historiadores, dentre eles, Suetônio, afirmaram que o fogo fora ateado por Nero. Outros historiadores, especialmente Tácito, não corroboraram essa informação. De qualquer modo, Nero acusou os cristãos de terem perpetrado o incêndio, como bodes expiatórios, e passou a persegui-los sistematicamente, culminando com o martírio de Pedro e Paulo, em Roma, o que se comprova historicamente pelos relatos da época. Assim, pode-se afirmar com certeza que as Basílicas de São Pedro e de São Paulo, na Cidade Eterna, foram erguidas nos locais onde os grandes da Igreja foram sepultados.
Nero mandou construir um circo fora da cidade de Roma, do outro lado do rio, no sopé da Colina Vaticano. Tudo indica que foi nesse circo que se deu o martírio de São Pedro. No centro desse circo, Nero mandou colocar um obelisco, uma pedra monolítica de granito de cor rosada, trazida de Heliópolis, no Egito. Este mesmo obelisco encontra-se hoje no centro da Praça de São Pedro. Figurativamente, o obelisco foi testemunha do martírio de Pedro. E foi sepultado na via Aurélia, onde havia uma necrópole. Os cristãos mandaram fazer um ornamento para o túmulo, o qual ganhou o nome de “O troféu de Gaio” e esse enfeite foi encontrado na década de 50, em escavações solicitadas pelo Papa Pio XII, as quais comprovaram também que São Paulo foi sepultado realmente na via Ostiense.
A pserguição durou cerca de três séculos, porém, em diferentes intensidades. Num primeiro momento foi dirigida aos líderes dos cristãos, depois passou para os leigos e isso ocorreu após a ordem do imperador Septímio Severo, o qual decretou que todos os cristãos, cidadãos do império romano, deveriam render culto e oferecer sacrifícios ao novo ídolo, o imperador, o qual seria portador da centelha divina. Isso seria comprovado pela emissão de um libelo, espécie de atestado.
Importante recordar que os romanos realmente criam que havia algo de divino no imperador, pois ele havia conseguido dado uma espécie de paz ao povo. Deste modo, ao recusarem-se a cultuar o imperador, os cristãos foram tomados como ímpios, transgressores. Além disso, os cristãos eram malquistos pela própria população. As perseguições em Lyon são um bom exemplo disso, pois a perseguição por parte das autoridades francesas, foram precedidas pelas arruaças do próprio povo que estavam linchando os cristãos.
Os cristãos pareciam ser ateus, pois rejeitavam o culto dos deuses adotados pelo povo, não tinham ídolos e se faziam seguidores de um Cristo. Contudo, de acordo com o que foi relatado por Tácito, em seus Anais, Cresto (assim foi grafado) foi apenas um marginal condenado à morte, na época do procurador Pilatos, na Judeia. Eram apenas fanáticos, seguidores de um marginal. Assim os cristãos eram vistos pelos romanos.
Além de serem tachados de ateus, os cristãos foram acusados de fazer sacrifícios humanos, envolvendo crianças, pelo fato de que afirmavam comer da carne e beber do sangue do Filho de Deus. Diziam que passavam a criança numa espécie de farinha e depois imolavam-na com uma faca especial, a comiam. Por fim, eram acusados também de terem relações sexuais incestuosas porque chamavam-se uns aos outros de irmãos. Todas essas calúnias colaboraram para tornar o cristianismo muito impopular.
Com o decreto de Septímio para que todos prestassem culto ao imperador, os cristãos passaram a ser perseguidos com muito mais intensidade e violência. No ano 250 d.C., houve a grande perseguição de Décio e em 300 d.C., a de Deocleciano. A primeira foi na época de Orígenes, o qual proferiu a famosa frase: “diante de uma tentação, o cristão, ou sai mártir ou sai idólatra”.
No ano de 313 d.C, o imperador Constantino assinou o famoso Édito de Milão, liberando o culto a Deus. Não há uma cifra exata de quantos cristãos morreram nessas perseguições. De modo claro, existem cerca de mil mártires cuja história e local de sepultamento são conhecimentos. Numa tentativa de se estimar o número aproximado, tem-se cerca de 20.000 mártires, o que é relativamente perto dos bilhões de mártires que o comunismo produziu no século XX.
Quando se fala em martírio o que vem à mente é justamente a perseguição ocorrida nos primeiros séculos. Mas como, se o grande martírio se deu no século XX e se dá ainda nos tempos atuais? Trata-se de uma situação singular em que a propaganda dos inimigos suplantou a realidade. Não se fala em martírio hoje.
Um outro problema relacionado é o fato de que a grande maioria dos cristãos hoje já não crê que a fé é algo pela qual não se mata, mas algo pelo qual se morre. A identidade do cristão, espelhada nos mártires dos primeiros séculos, quase se perdeu. Com isso, nem é preciso que o inimigo ataque, os próprios cristãos cuidam para que vença. É o que diz o livro “Cordula”, do renomado teólogo Lars Urs von Balthasar, escrito para contrapor a teoria de Karl Rahner de que todo homem nasce cristão e que justifica o chamado relativismo religioso. Para Balthasar, aceitar a ideia de Rahner é zombar do martírio dos primeiros cristãos, é rir deles por não saberem que todas as religiões são iguais.
No livro do Apocalipse existem duas bestas e já o povo antigo via nelas os dois grandes adversários da Igreja: o poder político (império) e a religião. O Império se utilizava da religião para justificá-lo. Essas duas bestas estão bem vivas ainda hoje. No século XXI, uma pretensão de governo mundial, encarnada concretamente na ONU e na elite globalista que tenta influenciar na soberania dos países. Para conseguir seu intento, é preciso unificar as religiões.
Nesse sentido, existe na sede da ONU, em Nova Iorque, uma capela onde todas as religiões são representadas, inclusive o cristianismo, ou seja, todas são colocadas no mesmo patamar. Este pluralismo, essa nova religião justifica o poder global, o novo governo mundial. Os cristãos são chamados a enfrentar, mais uma vez, essa grande dificuldade que se ergue. Seria, porém, muito triste, se os inimigos da Igreja não se preocupassem com os cristãos, como o episódio descrito em “Córdula”, pois estes mesmos fazem o trabalho de se autodestruir.

http://padrepauloricardo.org/aulas/a-perseguicao-dos-cristaos-pelo-imperio-romano

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