O FILME BELLA, O ABORTO E A CULTURA DA MORTE
Ivanaldo Santos, doutor em filosofia, fala sobre o filme Bella
Por Tarcisio Siqueira e edição de Thácio Siqueira
BRASILIA, segunda-feira, 25 de junho de 2012 (ZENIT.org)
– ZENIT entrevistou o Dr. Ivanaldo Santos sobre o filme Bella, um
filme que promove a vida e que venceu o Festival de Toronto, no Canadá.
O Dr. Ivanaldo Santos é filósofo, pesquisador e professor
universitário. Publicou mais de 70 artigos em revistas científicas
nacionais e internacionais e tem 8 livros publicados.
Publicamos a entrevista na íntegra:
***
ZENIT: Qual é a grande mensagem do filme Bella, vencedor do Festival de Filme de Toronto, no Canadá, em 2006?
IVANALDO SANTOS: Numa primeira leitura trata-se de um filme que fala do
fracasso. O filme apresenta o encontro de um jovem casal: José e Nina.
José é representado pelo ator Eduardo Verástegui e trata-se de um astro
internacional de futebol que, por lesões físicas, fica sem poder jogar e
perde a fama e o dinheiro. Ele termina sendo o cozinheiro no
restaurante de comida mexicana do seu irmão. Por sua vez, Nina,
representada pela atriz Tammy Blanchard, é uma jovem pobre que trabalha
de garçonete no restaurante em que José é o cozinheiro. Ela descobre que
está grávida e que o pai da criança não deseja assumir a ambos, Nina e
seu filho. Numa leitura que podemos dizer “contemporânea” poderia se
dizer que Nina tem uma “gravidez indesejada”. Aparentemente são duas
histórias de fracasso que se encontram. No entanto, numa segunda
leitura, uma leitura analítica e crítica, é possível afirmar que o filme
trata do valor e da importância da vida e da família. José poderia ter
se entregado às drogas e ao álcool, Nina poderia ter feito um aborto,
coisa que, no filme, é aconselhado. Vale salientar que drogas e aborto
são apresentados, em vários ambientes sociais, como sendo elementos de
libertação do ser humano. O casal José e Nina descobrem que acima das
drogas, do aborto e de qualquer outra “facilidade” da sociedade atual
estão a vida e a família. Trata-se de uma descoberta surpreendente que
emociona o telespectador. Com isso, a grande mensagem do filme é que
vale a pena investir na vida e na família. Mesmo que os valores sociais
digam que a família está morta, que não tem mais valor, ela é o núcleo
onde o indivíduo sempre encontrou o refúgio e a felicidade.
ZENIT: é possível fazer uma relação entre o filme Bella e a cultura da morte?
IVANALDO SANTOS: Sim é possível. O filme apresenta os valores da cultura
da morte (aborto, negação da família, individualismo e outros) de forma
bem natural, da mesma forma que um cidadão comum vê em seu cotidiano. O
filme não faz apologia da cultura da morte. Pelo contrário é uma das
maiores críticas que essa cultura sofreu nos últimos anos, mas apresenta
como os cidadãos, no dia-a-dia, tem acesso aos contra valores da
cultura da morte. Por exemplo, o filme apresenta o individualismo, a
busca cega por dinheiro, e como as pessoas e especialmente as mulheres
são induzidas e enganadas para realizarem o aborto. Na sociedade
contemporânea poucos são os espaços onde se falam do valor da vida, da
família, de ter filhos. Geralmente as pessoas são educadas para viverem
uma vida selvagem, para ganharem muito dinheiro, qualquer gravidez é
logo rotulada de “indesejada” e, por conseguinte, recomenda-se, como se
fosse natural, a prática do aborto. Tudo isso o telespectador poderá ver
no filme Bella. Nesse sentido o filme é realista. É uma espécie de
“raio X” da sociedade contemporânea.
ZENIT: O filme Bella tem recebido grandes elogios por parte da
crítica especializada. Apesar disso nota-se certo boicote por parte da
grande mídia. Por que isso acontece?
IVANALDO SANTOS: É possível apontar quatro motivos para esse boicote. O
primeiro é o fato do filme não ser de guerra e/ou de sexo. A grande
mídia (TV e cinema) trabalha essencialmente com elementos que dão lucro
fácil e audiência quase que automática. Um filme como Bella, que fala do
valor da vida e da família, que não tem nudez, que não tem longas
séries de tiroteios e mortes sangrentas, não atrai a atenção da grande
mídia.
O segundo motivo é que o filme não faz apologia do aborto e de outros
contra valores que atualmente são apresentados como libertários e
terapêuticos. É preciso ver que a grande mídia, em certo sentido, está
dominada e é controlada, se não em sua totalidade, pelo menos em sua
maioria, pela cultura da morte. A luta pelo lucro e pela audiência torna
a grande mídia susceptível ao dinheiro rápido e fácil que vem da
“indústria da morte”, ou seja, a “indústria” que oferece a morte como
produto a ser consumido. Entre esses produtos estão a violência, o
abandono da família, o aborto, a eutanásia, as drogas e o infanticídio.
O terceiro é a teoria neomalthusiana. No século XIX o malthusianismo
pregava que o crescimento populacional se daria em progressão
geométrica, enquanto os recursos humanos cresceriam em progressão
aritmética. Deste modo, em poucas décadas, haveria uma completa escassez
de recursos no planeta. A solução apontada foi a do controle da
natalidade. No início do século XXI essa mesma teoria malthusiana volta a
estar de moda. É o neomalthusianismo. Desta vez ela vem disfarçada com
uma nova roupa, a do “ecologismo”, e com traços apocalípticos – como se o
homem fosse o único mal da terra e esta estivesse a ponto de ser
destruída. Como esclarece o Padre Helio Luciano, em recente entrevista
concedida a agência de informação Zenit, chegamos à geração “Avatar”
–que exalta a ecologia ao mesmo tempo em que mata seus próprios filhos. O
problema é que neomalthusianismo faz muito sucesso na grande mídia.
Criou-se uma espécie de lugar comum que diz que repórter “moderno” e
“esclarecido” prega abertamente o discurso apocalítico do
neomalthusianismo. Um discurso de controle da natalidade. Só para se ter
uma ideia do problema, recentemente uma grande rede de TV no Brasil fez
uma série de matérias alarmistas dizendo que o planeta Terra está
lotada que não cabe mais ninguém. Essa série de matérias chegou ao ponto
de elogiar o rígido controle da natalidade realizado na China. Um
controle que pune os indivíduos com pesadas multas, com a prisão,
tortura e até mesmo a morte. Num contexto como esse, um filme como Bella
não atrai a atenção da grande mídia.
O quarto e último motivo é a falta de mobilização, de cobrança por parte
dos movimentos pró-vidas e pró-família. É comum os movimentos pró-vidas
e pró-família criticarem a programação alienante e favorável a cultura
da morte que é exibida na TV e nos cinemas. Essa é uma cobrança
importante que precisa ser aprofundada. No entanto, não se pode apenas
ficar criticando a grande mídia. É preciso trabalhar junto com ela. É
preciso conquistar a confiança da grande mídia. Uma das formas é lutar,
até mesmo com aporte financeiro, para que canais de TVs passem a exibir,
em sua programação normal, filmes e programas com conteúdo pró-vida e
pró-família. O filme Bella é um ótimo produto midiático para ser
oferecido às redes de TVs. É preciso ter coragem, ser audacioso. É
preciso aproveitar o grande sucesso do filme Bella para negociar com as
redes de cinema e TV uma programação mais voltada para a vida e a
família.
ZENIT: Qual a relação entre o filme Bella e a cultura da vida, de valorização da família?
IVANALDO SANTOS: Pode-se dizer que há uma relação de 100% de
proximidade. O filme não segue o esquema proposto pela cultura da morte,
ou seja, moça pobre, trabalha de garçonete em um restaurante, descobre
que está grávida e, por causa desses fatores, faz um aborto. É preciso
recordar que atualmente, devido à grande influência do
neomalthusianismo, tenta-se criar um lugar comum que diz que toda moça
pobre tem que abortar. É como se os pobres não tivessem responsabilidade
e condições morais de ter e criarem seus próprios filhos. Esse tipo de
discurso é altamente discriminador e concede grandes benefícios aos
ricos e à classe média. Em um mundo onde se fala tanto em inclusão
social o filme Bella é um exemplo de inclusão, pois promove a inclusão
do feto, do nascituro, justamente o grande excluído da propaganda
midiática, das políticas do governo e da agenda das Organizações Não
Governamentais (ONGs). Além disso, o filme inclui a família, berço de
toda a dignidade humana. Logo a família tão desprestigiada em nossos
dias. Trata-se de um filme que não pode ser colocado na categoria de
“conto de fadas”, mas é um filme que valoriza a família, a vida e a
natalidade. São valores eternos e que precisam estar no centro dos
debates da mídia, do governo e da Igreja.
ZENIT: O que dizer para alguém que não assistiu ao filme Bella?
IVANALDO SANTOS: Inicialmente é preciso ter convicção que dificilmente o
filme vai passar na TV em horário nobre. A não ser que algum
milionário, algum mecenas, pague a exibição. Partindo desse pressuposto,
afirma-se que o filme Bella precisa ser visto por todas as pessoas.
Sejam elas jovens, velhos, solteiros, casados, pessoas que abortaram ou
que pensam em abortar. É um filme muito realista. As cenas e diálogos do
filme podem ser encontradas, de forma real, na maioria de nossas
cidades. Por isso, é preciso que todo mundo se esforce para ver e
divulgar o filme. As pessoas devem adquirir o DVD com o filme e
assisti-lo em casa ou no trabalho com os parentes e amigos. A Igreja
deve fazer todo o esforço possível para difundir o filme Bella. Vamos
exibir o filme nas paróquias, capelas, nas escolas e demais lugares que
estejam sob administração da Igreja. O filme Bella trata-se de um dos
melhores presentes que o cinema deu à cultura da vida e à valorização da
dignidade da pessoa humana. Temos que lutar para que ele seja assistido
pelo maior número de pessoas possíveis.
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