Obra prima da graça Divina

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Palavras do Sacerdote
Maria Imaculada
No dia 8 de dezembro a Igreja celebra a solenidade da Imaculada Conceição de Maria. Ela recebeu do Senhor a extraordinária graça de ser preservada do pecado original (fruto do pecado do primeiro casal humano), já que seria a “Mãe do Senhor” (Lc 1,43). O Espírito Santo prometido por Jesus à sua Igreja (cf. Jo 14,26; 16,13) foi aos poucos confirmando esta verdade, até que o Bem-aventurado Papa Pio IX a proclamasse solenemente no dia 8/12/1854:
“...com a autoridade de Jesus Cristo, Senhor Nosso, dos Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e Nossa, declaramos, promulgamos e definimos que a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, foi preservada de toda mancha de pecado original, por singular graça e privilégio do Deus Onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador dos homens”(Bula Do Deus inefável, n. 41).
Para Deus nada é impossível, é bom se lembrar (Lc 1,37). A sua graça é mais forte do que o nosso pecado ou as forças das trevas (cf. Rm 5,12-21), e por isso não é absurdo que tenha realizado plenamente em Maria o seu projeto universal de salvação: “Em Cristo o Pai nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor” (Ef 1,4).
Maria foi chamada pelo anjo de “cheia de graça” (Lc 1,28). A expressão não indica apenas que é agraciada por Deus, mas sim particularmente favorecida com a “riqueza da sua graça” (Ef 1,7; cf. Jo 1,16); o termo grego se refere a algo iniciado no passado que ora continua, com um duplo sentido: “Tu és cheia do Espírito Santo. Tu estás em relação vital com Deus” (Cardeal Ratzinger, Maria Igreja nascente, IV,1) e uma “profusão de dons sobrenaturais” (João Paulo II, Encíclica Mãe do Redentor, n. 9).
Em Maria se reflete, de modo inigualável, a luz de Jesus, “Astro das alturas” (Lc 1,78; cf. Jo 8,12), de modo que pode ser identificada como a “mulher vestida de sol” que “deu à luz um filho (...) que irá reger todas as nações” (Ap 12,1.5). Desde o início os cristãos contemplam Maria intimamente unida a seu Filho, o Novo Adão, participando da perene “inimizade” entre Deus e o mal (Gn 3,15) como Nova Eva.
Nos séculos II-III encontramos na literatura cristã testemunhos sobre a santidade de Maria. Ela é chamada pelos Santos Padres de “toda pura” (S. Irineu, Adv. Haer. 3,22,4; cf. 4,3,11), “toda santa” (Orígenes, In Lc. Hom. 6). É como uma “madeira incorruptível” da qual o Senhor tomou a carne (Hipólito de Roma, In Ps. 22). A partir de S. Efrém (+373) os cristãos serão mais incisivos: “Certamente, na realidade, só tu [Cristo] e tua mãe sois os completamente belos, porque em ti, Senhor, não há mancha nem há em tua mãe mancha alguma” (Carmina nisibena 27,8).
Na Bíblia vemos que a revelação é progressiva. Aos poucos o povo vai descobrindo os mistérios divinos e humanos. Por exemplo, da máxima “olho por olho e dente por dente” se chega, séculos depois, ao mandamento “amai os vossos inimigos”. Algo semelhante ocorreu com a Imaculada Conceição. O franciscano João Duns Escoto (+ 1308) nos fez ver que Cristo redimiu a sua Mãe com uma redenção preservativa, não permitindo que o maligno ou o pecado atingissem Maria ao ser concebida no ventre de S. Ana. Daí em diante as dúvidas vão paulatinamente se dissipando, e por isso hoje declamemos para Maria com o Beato Padre José de Anchieta SJ (séc. XVI):

Toda bela de alvura e luz - não houve sombra em ti, doce noiva de Deus! (...)
Nódoa alguma, por mínima que fosse, empanou jamais tua beleza” (De Beata Virgine).


artigo publicado na Revista Divina Misericórdia


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