A Fundação da
Igreja
“E eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; e
eu te darei as chaves do reino dos Céus: e tudo o que desatares sobre a terra,
será desatado também nos céus.” (Mt. 16, 18)
Como
isso é claro e positivo! Jesus Cristo muda o nome de Simão, em pedra (aramaico:
Kephas, significa pedra e pedro, numa única palavra, como em francês Pierre é o
nome de uma pessoa e o nome do minério pedra).
Deus
fez diversas vezes tais mudanças, para que o nome exprimisse o papel especial
que deve representar a pessoa. Assim mudou o nome de Abrão em Abraão (Gn 17, 5),
para exprimir que devia ser o pai de muitos povos.
Mudou
ainda o nome de Jacob em Israel (Gn 32, 28) para significar a “força contra
Deus“. Assim Jesus Cristo mudou o nome de Simão em Pedro, sobre a qual
estará fundada a Igreja, sendo o seu construtor o próprio
Cristo.
Em
todo o trecho em que Nosso Senhor confirma S. Pedro como primeiro Papa, fica
evidente que Ele se dirige, exclusivamente, a S. Pedro, sem um mínimo desvio:
“Eu te digo… Tu és Pedro… Sobre esta pedra edificarei… Eu te darei… O que
desatares…”
S.
Pedro é a pessoa a quem tudo é dirigido … é ele o centro de todo este
texto.
Esse
ponto é muito importante, pois a interpretação truncada dos protestantes quer
admitir o absurdo de que Nosso Senhor não sabia se exprimir corretamente. Eles
dizem que Cristo queria dizer: “Simão, tu és pedra, mas não edificarei sobre ti
a minha Igreja, por que não és pedra, senão sobre mim.” Ora, é uma contradição,
pois Nosso Senhor alterou o nome de Simão para “Kephas”, deixando claro quem
seria a “pedra” visível de Sua Igreja.
A primazia de S. Pedro comprovada nas
Sagradas Escrituras e na Tradição
“Eu te darei as chaves do Reino dos Céus” [a S.
Pedro] – (Mt. 16, 17-19) – Primazia de jurisdição sobre todos, pois é a ele que
a sentença é dita.
O
primado de S. Pedro sobre os outros fica claramente expresso quando ele: 1)
preside e dirige a escolha de Matias para o lugar de Judas (At 1,1-25); 2) É o
primeiro a anunciar o evangelho no dia de Pentecostes (At 2, 14); 3) Testemunha,
diante do Sinédrio, a mensagem de Cristo (At 10, 1); 4) Acolhe na Igreja o
primeiro Pagão (At 10,1); 5) Fala primeiro no Concílio dos Apóstolos, em
Jerusalém, e decide sobre a questão da circuncisão: “Então toda a assembléia
silenciou“(At 15, 7-12), etc.
Todos
os sucessores dos apóstolos atestam o primado de Pedro e dos seus sucessores,
como, por exemplo: 1) Tertuliano: “A Igreja foi construída sobre
Pedro“; 2) S. Cipriano: “Sobre um só foi construída a Igreja:
Pedro“; Santo Ambrósio: “Onde há Pedro, aí há a Igreja de Jesus
Cristo“.
S.
Mateus enumerando os apóstolos, confirma o primado de S. Pedro: “O primeiro,
Simão, que se chama Pedro“(Mt 10, 2).
No
século I, o Bispo de Roma, Clemente, escrevendo aos Coríntios, para chamar à
ordem os que injustamente tinham demitido os presbíteros, declara-lhes que serão
réus de falta grave se não lhe obedecerem. O procedimento de Clemente de Roma
tem maior importância, se considerarmos que nessa época ainda vivia o apóstolo
S. João que não deixaria de intervir se o Bispo de Roma estivesse no mesmo plano
dos outros bispos.
No
princípio do sec. II, Santo Inácio escreve aos romanos que a Igreja de Roma
preside a todas as demais.
S.
Irineu diz ser a Igreja Romana a “máxima” e fundada pelos apóstolos
Pedro e Paulo (Heres. 3. 3. 2). Traz mais a lista dos dirigentes da Igreja
Romana desde S. Pedro ate o Papa reinante no tempo dele, que era S. Eleuterio.
Ao todo eram só doze. Eis a lista de modo ascensional: Eleuterio; Sotero;
Aniceto; Pio; Higino; Telesfor; Xisto; Alexandre; Evaristo; Clemente; Anacleto;
Lino; Pedro. (veja que S. Irineu deve ter vivido no entre o ano 100 e 200 DC).
S. Jerônimo escrevendo a S. Dâmaso, Papa, diz: “Eu me estreito a Vossa
Santidade que equivale a Cátedra de Pedro. E esta a pedra sobre a qual Jesus
Cristo fundou a sua Igreja. Seguro em vossa cátedra eu sigo a Jesus
Cristo“. Fala nisto direta ou indiretamente diversos santos e cristãos dos
primeiros séculos, formando a mais universal das tradições, a mais firme
convicção histórica. Só para citar alguns: S. Epifanio, Osório Pedro de
Alexandria, Dionísio de Corinto, S. João Crisóstomo, Papias,
etc.
Nosso
Senhor: “Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu com instância para vos
joeirar como trigo; mas eu roguei por ti, para que não desfaleça a tua fé; e tu,
uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Luc. 22, 31-32). Ou seja, é
S. Pedro que tem a missão, dada pelo próprio messias, de ‘confirmar‘
seus irmãos. Essa missão supõe, evidentemente, o primado de
jurisdição.
S.
Pedro é nomeado pastor das ovelhas de Cristo. Após a Ressurreição, Nosso Senhor
confia a Pedro a guarda de seu rebanho, isto é, confia-lhe o cuidado de toda a
cristandade, dos cordeiros e das ovelhas: “Apascenta os meus
cordeiros“, repete-lhe duas vezes; e à terceira: “apascenta as minhas
ovelhas” (Jo. 21, 15-17). Ora, conforme o uso corrente das línguas
orientais, a palavra apascentar significa “governar“. Apascentar os
cordeiros e as ovelhas é, portanto, governar com autoridade soberana a Igreja de
Cristo; é ser o chefe supremo; é ter o primado. Além do que a imagem de
“pastor” designa, na Sagrada Escritura, o Messias e sua obra (cf. Mq
2,13; 4,6s; Sf 3,18s, Jr 23,3; 31,19; Is 30,11; 49,9s). Ora, confiando a S.
Pedro a missão de pastor, Nosso Senhor o constituiu seu representante visível na
Terra.
No
catálogo dos apóstolos (Mt 10, 2-4; Mc 3, 16-19; Lc 6, 13-16; At 1, 13), S.
Pedro sempre é colocado em primeiro lugar. Em Mt. 10, 2 lê-se explicitamente que
Pedro é o primeiro (“Prótos“). Ora, “prótos” tanto quer dizer
o primeiro numericamente como o primeiro em dignidade e honra (v. Mt 20, 27; Mc
12, 28,31; At 13, 50; 28,17).
Em
Mt. 17, 24-27, curiosamente, Nosso Senhor mandou pagar o tributo ao templo em
nome Dele e de S. Pedro, demonstrando a importância daquele que seria o seu
representante visível. Ele não manda que se pague em nome dos outros apóstolos,
apenas de S. Pedro.
A
estadia de S. Pedro em Roma é incontestável historicamente. Sobre ela atestam
Orígenes (ano 254), Clemente de Alexandria (215), Tertuliano (222), S. Irineu
(202), Dionísio (171). Do século primeiro, convém destacar S. Inácio (107) e
Clemente Romano (101). Esses historiadores e testemunhas são reconhecidos, pela
crítica moderna, como autoridades dignas de fé.
Existe uma série ininterrupta de testemunhos do Século
III até aos apóstolos e isso sem uma voz discorde.
Em
Cartago e em Corinto, em Alexandria e Roma, na Gália como na África, no Oriente
como no Ocidente, a viagem de S. Pedro a Roma é afirmada unanimemente, como fato
sobre o qual não pairou nunca a mínima dúvida.
Orígenes (+ 254) diz: “S. Pedro, ao ser martirizado
em Roma, pediu e obteve fosse crucificado de cabeça para baixo” (Com. in
Genes., t. 3).
Clemente de Alexandria ( + 215) diz: “Marcos escreveu
o seu Evangelho a pedido dos Romanos que oviram a pregação de Pedro” (Hist.
Ecl. VI, 14).
Tertuliano (+ c. 222), por sua vez, diz: “Nero foi o
primeiro a banhar no sangue o berço da fé. Pedro então, segundo a promessa de
Cristo, foi por outrem cingido quando o suspenderam na Cruz” (Scorp. c.
15).
No
século II abundam igualmente provas.
Santo
Irineu (+ 202) escreve na sua grande obra “contra as heresias“:
“Mateus, achando-se entre os hebreus, escreveu o Evangelho na língua deles,
enquanto Pedro e Paulo evangelizavam em Roma e aí fundavam a Igreja” (L. 3,
c. 1, n. 1, v. 4).
Dionísio (+ 171) escreve ao papa Sotero: “S. Pedro e
S. Paulo foram à Itália, onde doutrinaram e sofreram o martírio
no mesmo tempo” (Evas. Hist. Eccl. II 25).
Do
século I convém destacar:
Santo
Inácio (+ 107), Bispo de Antioquia, que conviveu longos anos com os apóstolos.
Condenado por Trajano, fez viagem para Roma, onde foi supliciado, tendo escrito
antes uma carta aos Romanos onde diz: “Tudo isso eu não vos ordeno como
Pedro e Paulo; eles eram apóstolos, e eu sou um condenado” (ad Rom., c
IV).
Clemente Romano (+101), 3o sucessor de S. Pedro,
conheceu-o pessoalmente em Roma. É, por isso, autoridade de valor excepcional.
Eis o que escreve: “Ponhamos diante dos olhos os bons apóstolos Pedro e
Paulo. Pedro que, pelo ódio iníquo, sofreu; e depois do martírio, foi-se para a
mansão da glória. A estes santos varões, que ensinavam a santidade, associou-se
grande multidão de eleitos, que, supliciados pelo ódio, foram entre nós de ótimo
exemplo“.
Note
que só estão citados autores do início do cristianismo, para que não fique
dúvida acerca da idoneidade dos testemunhos, que poderiam ser objeto de dúvida
dos protestantes… É bom revelar que nenhum protestante imparcial teve a ousadia
de contestar esses historiadores.
É,
portanto, um fato certo que S. Pedro esteve em Roma e foi ali martirizado sob o
reinado de Nero. Nenhum historiador, até os protestantes, isto é, durante 1500
anos, o contesta; ao contrário: para todos eles é um fato notório e
público.
Vamos agora provar que S. Pedro foi o primeiro Bispo
de Roma:
Poderíamos citar muitas longas passagens de S. Irineu,
Caio, S. Cipriano, S. Agostinho, S. Optato, S. Jerônimo, Sulpício Severo, que
atestam “unânimes” o episcopado romano do príncipe dos apóstolos. Limitemo-nos a
umas curtas citações:
Caio:
falando de S. Vitor, Papa, diz: “Desde Pedro ele foi o décimo terceiro Bispo
de Roma“(ad Euseb. 128)
S.
Jerônimo: “Simão Pedro foi a Roma e aí ocupou a cátedra sacerdotal durante
25 anos” (De Viris Ill. 1, 1).
S.
Agostinho: “S. Lino sucedeu a S. Pedro” (Epist.
53)
Sulpício Severo, falando do tempo de Nero, diz:
“Neste tempo, Pedro exercia em Roma a função de Bispo” (His. Sacr., n.
28)
S.
Ireneu: “Os apóstolos Pedro e Paulo fundaram a Igreja, e o primeiro remeteu
o episcopado a Lino, a quem sucedeu Anacleto e depois
Clemente“.
Convém notar ainda que todos os catálogos dos Bispos de
Roma, organizados segundo os documentos primitivos, pelos antigos escritores,
colocam invariavelmente o nome de Pedro à frente de
todos.
Agora
veremos como o Papa é sucessor direto de S. Pedro, primeiro Bispo de
Roma:
Primeiramente, os protestantes deveriam provar que o Papa
não é sucessor de S. Pedro, todavia, como eles não tem nenhum texto histórico ou
religioso que prove, eles pedem uma prova dos católicos. Eles só negam, nada
podem afirmar.
Vamos
analisar as Sagradas Escrituras. Lá existe não só a investidura de S. Pedro como
chefe visível da Igreja, mas a investidura perpétua dos apóstolos, para serem os
“enviados” de Cristo (Mt. 28, 18 – 20): “É me dado todo o poder no
céu e na terra; ide pois e ensinai a todos os povos e eis que estou convosco
todos os dias até a consumação do mundo“.
Que
quer dizer isso?
1 –
Cristo tem todo poder, é a primeira parte
2 –
Cristo transmite este poder, é a segunda parte (Lembremo-nos, no mesmo sentido,
da frase: “tudo que ligares na terra será ligado no céu e tudo o que desligares
na terra será desligado no céu”)
3 – A
quem Ele transmite? Aos apóstolos.
4 –
Até quando? Até a consumação do mundo
Ora,
Cristo transmitiu este poder unicamente aos apóstolos presentes? Não pode ser,
pois os apóstolos deviam morrer um dia, como todos os homens morrem. Ele diz:
“estarei convosco até à consumação do
mundo“.
Se
Ele promete estar com os apóstolos até o fim do mundo, é claro que ele não está
se dirigindo aos apóstolos como pessoas físicas, mas como um “corpo
moral“, que deve perpetuar-se nos seus sucessores, e hão de durar atá o fim
dos tempos.
Eis
uma prova evidente que o bispo de Roma, que é o Papa, é o sucessor de S. Pedro e
de sua “jurisdição”.
A
sucessão também é observada nos primeiros cristãos, que nomeavam diáconos e
bispos, transmitindo-lhes as obrigações de seus
antecessores.
Jesus
Cristo, fundando uma sociedade religiosa visível, que devia durar até ao fim do
mundo, devia necessariamente nomear um chefe, com sucessão, para perpetuar a
mesma autoridade: “Quem vos escuta, escuta a mim” (Mt 28, 18). Se assim
não fosse, Nosso Senhor não teria podido dizer: “Eis que estou convosco
todos os dias até o fim do mundo“; devia ter dito que estaria apenas com S.
Pedro até o fim de sua vida. Dessa forma, cumpre-se o que manda a Bíblia:
“Um só senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef. 4,
5)
S.
Pedro, 42 – 67 - S. Lino, 67 – 78 - S. Cleto, 78 – 91 -
S. Clemente, 91 – 100
Santo
Evaristo, 100 – 109 - Santo Alexandre I, 109
– 119 - S. Sixto I, 119- 128
S.
Telésforo, 128 – 139 - Santo Higino, 139 – 142
- S. Pio I, 142 – 150
S.
Vitor, 186 – 197 - S. Zefirino, 197 – 217
- S. Calisto I, 217 – 222 - Santo Urbano I, 222 –
230
S.
Ponciano, 230 – 235 - Santo Antero, 235 – 236
- S. Fabiano, 236 – 251
S.
Cornélio, 251 – 252 -S. Lúcio I, 252 – 254 -
Santo Estêvão I, 254 – 257
S.
Sixto II, 257 – 259 - S. Dionísio, 259 – 269
- S. Félix, 269 – 275 - Santo Eutiquiano, 275 –
283
S.
Caio, 283 – 295 - S. Marcelino, 295 – 304 - S. Marcelo, 304 –
310
Santo
Eusébio, 310 – 311 - S. Melcíades, 311 – 313
- S. Silvestre I, 313 – 336
S.
Silvestre batizou o imperador Constantino Magno.
“Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho, sobre que
o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a Igreja de Deus a
qual santificou pelo seu próprio sangue” (At 20,
28)
“Quem vos ouve, a mim ouve; quem vos despreza, a mim
despreza; e quem me despreza, despreza aquele que me enviou“. (LC 10,
16)
A
Bíblia diz claramente que Jesus Cristo fundou uma Igreja sobre Pedro (Mt 16,
18), diz que estaria com ele até o fim do mundo (Mt 28, 13-20), que lhe dava as
chaves do reino do céu (Mt 16, 19), que esta Igreja seria coluna e firmamento da
verdade (1 Tim 3, 15), que é preciso escutar esta Igreja sob pena de ser tratado
como um pagão (Mt 18, 17).
Mesmo
em relação à autoridade dos Fariseus e Escribas, apesar de viciados em seus
erros, por serem a autoridade legítima, disse Nosso Senhor: “Sobre a cadeira
de Moisés se assentaram os escribas e os fariseus; observai, pois, e fazei tudo
o que eles vos disserem; mas não imiteis as suas ações” (Mt 23,
2).
Nosso
Senhor escolheu, entre seus inúmeros discípulos, apenas doze Apóstolos, (Mt. 10,
2-4). Instruiu-os duma maneira particular, desvendou-lhes o sentido das
parábolas que as turbas não compreendiam (Mt. 13, 2) e associou-os à sua obra
mandando-lhes que pregassem o reino de Deus aos filhos de Israel (Mt. 10, 5,
42).
Poucos dias antes da Ascenção, Cristo confiou aos doze
Apóstolos o poder que antes lhes tinha prometido: “Todo o poder me foi dado
no céu e na terra; ide, pois, e ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do
Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que
eu vos tenho ordenado, e estai certos de que eu estou convosco todos os dias até
a consumação dos séculos” (Mt. 28, 19-20). Portanto, conclui Boulenger,
Jesus Cristo comunicou aos Apóstolos o poder – 1) de ensinar: “ide e ensinai
todos os povos“, 2) de santificar, pelos ritos instituídos para este fim e,
em particular, pelo batismo, 3) de governar, uma vez que os Apóstolos hão de
ensinar o mundo a “observar” tudo o que Ele
mandou.
A Hierarquia reconhecida na
história:
1)
Testemunho de Santo Irineu, argumentando contra os hereges, apresenta o caráter
hierárquico da Igreja, como um ‘fato notório‘ que ninguém pode negar,
como uma fundação de Cristo e dos Apóstolos. Ora, como podia reivindicar para a
Igreja cristão a origem apostólica, se os seus adversários pudessem apresentar
provas da fundação recente da hierarquia?
2)
Testemunho de S. Policarpo, em meados do sec. II, designa os pastores como
“chefes da hierarquia e guardas da fé”
3) No
mesmo século ainda podemos citar os testemunhos: a) o de Hegesipo que mostra as
Igreja governadas pelos Bispos, sucessores dos apóstolos; b) o de Dionísio de
Corinto, que escreve na sua carta à Igreja romana que a Igreja de Corinto guarda
fielmente as admoestações recebidas outrora do Papa
Clemente.
4) No
ano 110, Santo Inácio de Antioquia, em sua Epístola aos Romanos, da Igreja de
Roma como do centro da cristandade: “Tu (Igreja de Roma) ensinastes as
outras. E eu quero que permaneçam firmes as coisas que tu prescreves pelo teu
ensino” (Rom, IV, 1).
5)
Cerca do ano de 96, S. Clemente Romano, discípulo imediato de S. Pedro e de S.
Paulo, escreveu uma carta aos Coríntios, na qual nos dá da Igreja noção
equivalente à de S. Ireneu, apresentando a hierarquia como a “guarda da
tradição” e a Igreja de Roma com a primazia universal sobre todas as
Igrejas locais.
6)
Deste modo, chegamos, de geração em geração, aos tempos apostólicos. Desde o
primeiro alvorecer do cristianismo, os Apóstolos desempenharam a dupla função de
dirigentes e pregadores. Escolheram Matias para ocupar o lugar de Judas (At 1,
12, 26). Instituíram diáconos nos quais delegaram parte dos seus poderes (At. 6,
1, 6).
Na
prática da Igreja também fica claro o poder de governo sobre todos os cristãos.
Os Apóstolos exerceram este tríplice poder: a) Poder legislativo: No Concílio de
Jerusalém, impõem aos recém-convertidos “que se abstenham das carnes
oferecidas aos ídolos, das viandas sufocadas e da impureza” (At 15, 29); b)
poder judiciário: S. Paulo entrega a Satanás “Himeneu e Alexandre, para
aprenderem a não blasfemar” (I Tim 1, 20); c) poder penal: S. Paulo escreve
aos coríntios: “Portanto, eu vos escrevo estas coisas, estando ainda longe
de vós, de modo que, quando eu chegar aí, não tenha de castigar, segundo o poder
a mim confiado por Deus para edificar, não para destruir” (II Cor 13,
10).
Vimos
que Jesus Cristo fundou uma Igreja hierárquica, conferindo aos Apóstolos e aos
Bispos, seus sucessores, os poderes de ensinar, de santificar e de governar.
Demonstraremos agora que Jesus ligou ao poder de ensinar o privilégio da
“infalibilidade“.
Conceito: A infalibilidade é a
garantia de preservação de todo erro doutrinal pela assistência do Espírito
Santo. Não é simples inerrância de fato, mas de direito. Portanto, não se deve
confundir a infalibilidade com a “inspiração“, que consiste no impulso
divino que leva os escritores sagrados a escreverem o que Deus quer; e nem com a
“revelação“, que supõe a manifestação duma verdade antes ignorada. O
privilégio da Infalibilidade não faz com que a Igreja descubra verdades novas;
garante-lhe somente que, devido à assistência divina, não pode errar nem, por
conseqüência, induzir em erro, no que respeita a questões de Fé ou
moral.
Todavia, não se confunde a “infalibilidade” com
a “impecabilidade“. A Igreja nunca defendeu a tese de que o Papa não
pudesse cometer pecados. O Papa é infalível quando segue as normas da
infalibilidade, falando à toda a Igreja, como sucessor de S. Pedro, em matéria
de Fé e Moral, definindo uma verdade que deve ser acatada por todos. Em sua vida
privada – ou quando não utilizando a fórmula da infalibilidade -, o Papa pode
cometer erros e até pecados.
Argumento de razão: Não se justifica que Deus possa ter
deixado os homens à sua própria sorte no tocante à doutrina. O “livre exame”
protestante gera o subjetivismo e as divisões, condenadas pela Sagrada
Escritura. A autoridade de um corpo de apóstolos é necessária, racionalmente,
para a realização dos planos de Deus na terra, sob pena de aceitarmos a tese de
que Deus não guia seu povo.
Argumento histórico:
Somos
chegados ao campo positivo da história. Afinal, o que Jesus devia fazer, segundo
a razão, tê-lo-ia feito? Terá instituído uma autoridade viva e infalível
encarregada de guardar e ensinar a sua doutrina?
O
primeiro ponto, de que Nosso Senhor instituiu uma Igreja hierárquica, com chefes
a quem concedeu o poder de ensinar, já está demonstrado anteriormente. Resta
agora examinar o segundo ponto, no qual provaremos que o poder de ensinar
comporta o privilégio da “infalibilidade”.
a)
Nos textos da Escritura:
A S.
Pedro, em especial, prometeu Jesus Cristo que “as portas do inferno não
prevalecerão contra ela (Igreja)” (Mat. 16, 18); e a todos os Apóstolos
prometeu, por duas vezes, enviar-lhes o Espírito de Verdade (Jo. 14, 15; 15, 26)
e ficar com eles até ao fim do mundo (Mat 28, 20). Estas promessas significam
claramente que a Igreja é indefectível, que os apóstolos e os seus sucessores
não poderão errar quando ensinarem a doutrina de Jesus; porque a assistência de
Cristo não pode ser em vão, nem o erro estar onde se encontra o Espírito de
verdade;
b) No
modo de proceder dos Apóstolos:
Do
seu ensino se depreende que tinham consciência de ser assistidos pelo Espírito
Santo. O decreto do Concílio de Jerusalém termina com estas palavras: “Assim
pareceu ao Espírito Santo e a nós” (At. 15, 28). Os Apóstolos pregam a
doutrina evangélica “não como palavra de homens, mas como palavra de Deus,
que na verdade o é” (1Tes 2, 13), a que é necessário dar pleno assentimento
(II Cor 10, 5) e cujo depósito convém guardar cuidadosamente (1 Tim 6, 20). Além
disso, confirmam a verdade de sua doutrina com muitos milagres (At 2, 43 etc):
prova evidente de que eram intérpretes infalíveis da doutrina de Cristo, de
outro modo Deus não a confirmaria com o seu poder;
c) Na
crença da antigüidade cristã:
Concedem os nossos adversários que a crença na existência
dum magistério vivo e infalível existia já no século III. Basta, portanto,
aduzir testemunhos anteriores.
Na
primeira metade do século III, Orígenes, aos hereges que alegam as Escrituras,
responde que é necessário atender à tradição eclesiástica e crer no que fio
transmitido pela sucessão da Igreja de Deus. Tertuliano, no tratado “Da
prescrição“, opõe aos hereges o “argumento da prescrição”
(condenando o que contraria o ensinado pelos apóstolos) e afirma que a regra de
fé é a doutrina que a Igreja recebeu dos Apóstolos.
Nos
fins do século II, S. Irineu, na carta a Florino e no “Tratado contra as
heresias“, apresenta a Tradição apostólica como a sã doutrina, como uma
tradição que “não é meramente humana“. Donde se segue que não há motivo
para discutir com os hereges e que estão condenados pelo fato de discordarem
desta tradição.
Pelo
ano de 160, Hegesipo apresenta, como critério da Fé ortodoxa, a conformidade com
a “doutrina” dos Apóstolos “transmitida” por meio dos Bispos,
e por esse motivo redige a lista dos Bispos. Na primeira metade do século II,
Policarpo e Papias apresentam a doutrina dos Apóstolos como a única verdadeira,
como uma regra segura de Fé. Nos princípios do mesmo século, temos o testemunho
de Santo Inácio. Afirma este santo que a Igreja é “infalível” e que a
incorporação nela é necessária a quem se quer
salvar.
Conclusão: tanto através da razão como da história,
provamos que o poder de ensinar, conferido por Nosso Senhor Jesus Cristo à
Igreja docente, traz consigo o privilégio da “infalibilidade“, isto é,
que a Igreja não pode errar quando expõe a doutrina de Jesus
Cristo.
Pelo
exposto, fica claro que a “infalibilidade” é privilégio daqueles a quem
compete “ensinar“, isto é, os Apóstolos e, de modo especial, a S. Pedro
e seus sucessores.
A
infalibilidade do colégio apostólico provém, portanto: a) da missão conferida a
“todos os apóstolos” de “ensinar todas as nações” (Mat 28,
20); b) da “promessa de estar com eles” “até à consumação dos
séculos” (Mat 28, 20) e de lhes “enviar o consolador, o Espírito Santo
que lhes há de ensinar toda a verdade” (Jo, 14, 26). Estas passagens
mostram com evidência que o privilégio da “infalibilidade” foi
concedido ao “corpo docente” tomado
coletivamente.
A
sucessão desse poder deve ser entendida no sentido de que o colégio apostólicos,
atualmente composto pelos bispos, é ‘infalível’ não individualmente em cada
bispo, mas no conjunto deles.
No
caso de S. Pedro e seus sucessores, a infalibilidade é pessoal. Provaremos isso
com argumentos tirados dos textos evangélicos e da
história.
O
argumento escriturístico deriva dos mesmo textos que demonstram o primado de S.
Pedro: “Tu és Pedro…“, pois é incontestável que a estabilidade do
edifício lhe vem dos alicerces. Se. S. Pedro, que deve sustentar o edifício
cristão, pudesse ensinar o erro, a Igreja estaria construída sobre um fundamento
inseguro e já se não poderia dizer “as portas do inferno não prevalecerão
contra ela“.
Depois, com o “Confirma fratres” (“confirma
os irmãos“), Nosso Senhor assegurou a Pedro que pedira de modo especial por
ele, “para que sua fé não desfaleça” (Luc 22, 32). É evidente que esta
prece feita em circunstâncias tão solenes e tão graves (o momento da paixão de
Nosso Senhor) não pode ser frustrada.
Finalmente, com o “Pasce Oves” (apascenta as
minhas ovelhas), foi confiada a Pedro a guarda, o governo, de todo o rebanho.
Ora, não se pode supor que Jesus Cristo tenha entregue o cuidado do seu rebanho,
colocando S. Pedro como Pastor, a um pastor que pudesse desencaminhar as ovelhas
eternamente, ensinando o erro.
O Argumento histórico da infalibilidade
de S. Pedro:
A
crença da Igreja não se manifestou da mesma forma em todos os séculos. Houve, na
verdade, certo desenvolvimento na exposição do dogma e até no uso da
infalibilidade pontifícia; mas nem por isso o dogma deixa de remontar aos
primeiros tempos, e de fato já o encontramos em germe na Tradição mais afastada,
como se demonstra pelo sentir dos Padres da Igreja e dos concílios, e pelos
fatos:
No
século II, S. Irineu afirmava que todas as Igrejas se devem conformar com a de
Roma, pois só ela possui a verdade integral.
S.
Cipriano dizia que os Romanos estão “garantidos na sua fé pela pregação do
Apóstolo e são inacessíveis à perfídia do erro” (o apóstolo dos romanos é
S. Pedro).
S.
Jerônimo, para pôr termo às controvérsias que afligiam o Oriente, escreveu ao
Papa S. Dâmaso nos seguintes termos: “Julguei que devia consultar a este
respeito a cadeira de Pedro e a fé apostólica, pois só em vós está ao abrigo da
corrupção o legado dos nossos pais“.
S.
Agostinho diz a propósito do pelagianismo: “Os decretos de dois concílios
relativos ao assunto foram submetidos à Sé apostólica; já chegou a resposta, a
causa está julgada“, “Roma locuta est, causa finita
est“.
O
testemunho de S. Pedro Crisólogo não é menos explícito: “Exortamo-vos,
veneráveis irmãos, a receber com docilidade os escritos do santo Papa da cidade
de Roma, porque S. Pedro, sempre presente na sua sede, oferece a fé verdadeira
aos que a procuram“.
O que
fica dito anteriormente acerca do primado do Bispo de Roma, aplica-se com a
mesma propriedade ao reconhecimento de sua
infalibilidade.
No
século II, o papa Victor excomungou Teódoto que negava a divindade de Cristo,
com uma sentença tida por todos como definitiva. Zeferino condenou os
Montanistas, Calisto os Sabelianos, e, a partir destas condenações, foram
considerados como hereges. Em 417, o papa Inocêncio I proscreveu o pelagianismo,
e a Igreja reconheceu o decreto como definitivo. Em 430, o papa Celestino
condenou a doutrina de Nestório, e os Padres do Concílio de Éfeso seguiram a sua
opinião.
O
concílio de Calcedónia (451) recebeu solenemente a célebre carta dogmática do
Papa Leão I a Flaviano, que condenou a heresia de Eutiques, proclamando
unanimemente: “Pedro falou pela boca de Leão“. Do mesmo modo os Padres
do III Concílio de Constantinopla (680) aclamaram o decreto do Papa Agatão que
condenava o monotelitismo, dizendo: “Pedro falou pela boca de
Agatão“.
Como
se vê, desde os primeiros séculos a Igreja romana é reconhecida como o
“centro da fé” e como a “norma segura da ortodoxia“. Quanto
mais avançamos, tanto mais explícitos são os termos que nos manifestam a
universalidade desta crença, proclamada como dogma no I Concílio
Vaticano.
Finalmente, podemos afirmar que nunca um Papa, na
história da Igreja, proclamou, segundo a fórmula da infalibilidade, um erro
doutrinário.
Apenas com um chefe visível, infalível, se pode cumprir a
unidade do “corpo místico de cristo”.
Em relação à
doutrina:
1)
“Quem não está comigo é contra mim“(Mt
12,30)
2)
“Um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos” (Ef
4, 3-6)
3)
“Não rogo apenas por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de
crer em mim. Para que todos sejam um, assim como Tu, Pai, estás em mim e eu em
ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me
enviaste“(Jo 17,20-21).
4)
“Recomendo-vos, irmãos, que tomeis cuidado com os que produzem divisões
contra a doutrina que aprendestes. Afastai-vos deles” (Rm 16,
17).
5)
“Se alguém vos anunciar um evangelho diferente, seja execrado, isto é, seja
excomungado“(G. 1,7-9).
Em relação ao
culto:
1)
“Porque há um só pão, um só corpo somos nós, embora muitos, visto
participarmos todos do único pão” (1Cor 10,17)
2)
“A multidão dos fiéis tinha um só coração e uma só alma“(At 4,
32)
3)
“Esforçai-vos em conservar a unidade do Espírito no vínculo da paz”
(Ef. 4,3).
Em
relação à unidade de Governo:
1)
“Irmãos, conjuro-vos que sejais sempre perfeitamente unidos num só
sentimento e num mesmo pensar” (1 Cor 1,10)
2)
“Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil. Estas tenho de reunir,
e elas ouvirão a minha voz. E então haverá um só rebanho e um só pastor”
(Jo. 10,16; Mt 16, 15-16).
O
próprio fato de S. Paulo ter procurado a unidade na questão da circuncisão deixa
patente a existência de uma Igreja una. No concílio que decidiu essa questão, em
Jerusalém, foi S. Pedro quem falou primeiro e quem deu a última palavra sobre a
questão: “Então toda a assembléia silenciou“(At 15, 7-12), obedecendo
ao Chefe do Colégio Apostólico.
Nas
Sagradas Escrituras, é só folhear os Atos dos Apóstolos e verificar o
crescimento da Igreja (a mesma e una) desde o início até os dias de
hoje.
A
Igreja cresceu rápida, veloz, ao ponto que S. Paulo pôde compará-la com “um
edifício vastíssimo, tendo os apóstolos por alicerce e Cristo como pedra
angular.” (Ef. 2, 20)
Tertuliano se atrevia a escrever no seu Apologético,
dirigido ao imperador romano: “Somos de ontem, e já enchemos as cidades, as
ilhas, os castelos, os acampamentos, as aldeias e os campos; só deixamos vazios
os vossos templos. Se nos retirassem, o império ficaria
deserto“.
A
Igreja de Cristo vai crescendo e se espalhando, “multitudo ingens“, diz
Tácito, falando do tempo de Nero (Anais 15, 44), formando uma “imensa
multidão“, até que, afinal, dominando e vencendo a tirania dos imperadores
pagãos, logre o reconhecimento oficial, com o reinado de Constantino Magno,
primeiro imperador cristão.
Foi
nesse tempo, em 325, que se reuniu o primeiro concílio dos bispos católicos, em
Nicéia, ao qual compareceram 318 bispos, sob a presidência de Ósio, bispo de
Córdova, assistido de dois legados do Papa (de Roma), S.
Sivestre.
Portanto, a história e a bíblia são claros ao narrar a
expansão da mesma Igreja, fundada por Nosso Senhor sobre S. Pedro, em
unidade.
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