Nosso amor à Igreja

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Nosso amor à Igreja



“A Igreja é a carícia do amor de Deus ao mundo.” Papa João Paulo II
Vamos refletir sobre a Igreja, buscando afervorar o amor por ela. Começo por definir o que vem a ser a Igreja. Os Santos Padres, teólogos dos primeiros séculos, consideram-na Comunidade de fé e de caridade, dando a essa caridade o nome de ágape.
A Igreja é a Comunidade daqueles que seguem a mesma fé: “Há um só Senhor, uma só fé, um só Batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que atua acima de todos, por todos e em todos”, diz São Paulo (Ef 4,5-6). Esta Comunidade caracteriza-se, externamente, pelo dinamismo e a criatividade do amor ao próximo: isto é o que chamamos de caridade. São João dedica grande parte de sua Primeira Carta ao conhecimento de Deus através da fé e da caridade, pelo nosso devotamento aos irmãos.
Esta Comunidade nasceu do sangue de Cristo, derramado na cruz. Foi lá que se deu, propriamente, o surgimento da Igreja e a consagração de nosso amor a ela. Do Corpo Físico do Senhor, pendente exangue do madeiro, surgiu o seu Corpo Místico, do qual Ele é a Cabeça e nós, os membros. Esta é a Igreja de Cristo, que chamamos Católica, por estar espalhada pelo mundo todo, cumprindo a missão que seu próprio fundador lhe confiou. Nela se encontra a plenitude da verdade e dos meios de salvação, embora esta verdade se esclareça dia após dia, pela atuação do Espírito Santo.
Tendo nascido do lado aberto de Cristo, como falam os Santos Padres, a Igreja é a dispensadora das torrentes da graça divina para o mundo, uma plenitude que nos cabe colher, na proporção de nossas capacidades, da própria fonte primordial, que é o Cristo crucificado: “Tirareis com alegria águas das fontes da salvação” (Is 12,3). As fontes da salvação são os atos salvíficos de Cristo: as chagas, as lágrimas de dor e o indescritível sofrimento vividos na Paixão, o grande Mistério de seu amor por nós, consubstanciado nos Sacramentos. Bebendo desta fonte, nasce e se fortalece nosso amor à Igreja.
Uma segunda visão sobre a Igreja de Cristo é a perspectiva de Assembléia, convocada pelo Espírito Santo, no dia de Pentecostes. Os discípulos, aproximadamente 120 pessoas, ficaram reunidos durante uma semana inteira, no aguardo da vinda do Prometido. Os Atos dos Apóstolos narram que o Espírito Santo desceu sobre cada um deles, como chama de fogo (cf. At 2,1-4). Invadiu-os o Dom divino, que ilumina com a verdade, pacifica com a fidelidade e aquece com o próprio Amor Pessoal do Pai e do Filho. Também nós fomos convocados, no Pentecostes de nosso Batismo e da Crisma, a espalhar a boa notícia do Cristo, convidando ao seu seguimento todos que pudermos atingir pelo testemunho.
A Igreja fundamenta-se sobre o Senhor, pedra angular, profetizada no Salmo: “A pedra que os construtores rejeitaram, tornou-se a pedra angular. Isso vem de Javé, e é maravilha aos nossos olhos” (Sl 117[118],22-23). Apoiados nesta Pedra erguem-se, como colunas, os Apóstolos, que sustentam a construção eclesial. O próprio Jesus deu ao seu Representante visível na terra o nome de pedra: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). A Igreja já conta com 265 sucessores de Pedro, incluindo o atual Papa Bento XVI.
No grupo dos 12 Apóstolos, Matias foi eleito para substituir Judas Iscariotes. Mais tarde, a conversão de Paulo de Tarso enriqueceu a Igreja com o maior dos Apóstolos, grande Missionário dos Gentios e autor da maioria dos escritos da Nova Aliança. A estrutura eclesial vai-se firmando gradativamente, à medida em que incorpora as comunidades dos fiéis, unidos pela identidade de fé e de amor recíproco. E assim se ergue, maravilhosamente, o edifício da Igreja.
Este edifício abre suas portas a todos, através da caridade social, embasada na Doutrina Social da Igreja. Trata-se de um corpus doutrinário que nasceu, evidentemente, do ensinamento global e inspirado de Sagrada Escritura, e que se foi estruturando ao longo dos séculos. Sua grande expansão, em âmbito social, deu-se a partir do Papa Leão XIII (1878-1903) e chegou aos nossos dias, com diversos documentos fundamentais dos últimos Papas.
A prática da caridade social está consubstanciada em organizações assistenciais e de promoção humana, que persistem pelos mais de 2 mil anos de existência da Igreja. Conforme já citei em outras oportunidades, estas organizações, somente aqui na Arquidiocese do Rio de Janeiro, atendem em torno de 4 milhões de pessoas por ano.
A Igreja se caracteriza, também, pela vida sacramental. Este é um ponto distintivo, que é importante citar. A Igreja Católica é a única que possui os sete Sacramentos, instituídos por Cristo, e confirmados pelos Apóstolos. Não se pode negar a existência de “sementes da verdade” em outras Comunidades Eclesiais, mas na Igreja Católica encontra-se a plenitude da verdade, legada por seu Fundador. Reconhecêmo-lo presente em nós e entre nós, pela força do Espírito Santo, sobretudo nos Sacramentos.
Como devemos demonstrar nosso amor à Igreja? Em primeiro lugar, pelo respeito à sua organização e estrutura. Muitos não gostam desta palavra, mas não existe Comunidade sem estrutura. Assim, a Hierarquia é fundamental para a Igreja, embora sua atuação não precise ser exageradamente acentuada, como já ocorreu em épocas anteriores.
O respeito à organização da Igreja se manifesta no interesse pelo andamento de seu trabalho pastoral, administrativo e social. Tudo isso é amor, que brota da tomada de consciência de sermos seus membros, chamados a frutificar, através da participação ativa no culto e nas Pastorais.
Na Arquidiocese do Rio de Janeiro temos mais de 40 pastorais. Convido os caros leitores e amigos a se informarem, nas suas respectivas Paróquias, sobre as variadas formas de participação e auxílio que podem ser oferecidos às nossas Pastorais. Sua diversidade é uma grande riqueza, onde sempre se encontram aplicações para os talentos disponíveis, os ministérios “escondidos”.
Amor à Igreja é um sentimento que não se adquire, sem mais. É preciso desenvolvê-lo, a começar da freqüência aos Sacramentos, especialmente, da Santa Missa aos domingos e dias santos de guarda. A partir daí, todo o nosso trabalho estará consagrado ao Senhor. Antes de ser uma obrigação, é um privilégio. Jesus não precisa da nossa presença. Nós é que nos enriquecemos com a sua proximidade e atuação, graciosa e gratuita, em todas as circunstâncias em que o procuramos.
Cardeal D. Eusébio Oscar Scheid, Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro
19 de Fevereiro de 2008

(Cléofas – http://www.cleofas.com.br/)


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