Mesmo com as impossibilidades e com todos os desafios que comporta o dom da
amizade, Deus vai nos dando a graça da escolha gratuita e a criatividade de
darmos provas de amor um ao outro, simplesmente sendo nós mesmos. Aprende-se
muito com o amigo, através do amor a Deus que se concretiza na discrição, na
alegria, na transparência em sermos quem somos, sem máscaras e sem mesquinhez no
coração. A amizade requer o cultivo do relacionamento e a arte de ter aprendido
que na relação não nos serve escondermos o que constitui o nosso potencial
interior e a nossa verdade, aquilo que Deus mesmo realizou nas nossas vidas ou
aquilo pelo qual lutamos pra vencer e superarmos.
Somos um mistério fascinante, mesmo que tenhamos de admitir que a limitação e
a fragilidade nos marquem. A amizade acontece mesmo quando é preciso tocar
naquele mistério de graças como de misérias presentes no coração de cada um de
nós. “Característica da amizade é a certeza de encontrar o imutável no mutável”,
afirma o escritor Giuseppe. Recordo-me de uma expressão que tomei conhecimento
já a alguns anos atrás, que diz: “Quero um amigo com o qual eu tenha, na sua
presença, a liberdade de sentir-me fraco, ser diante dele aquilo que realmente
eu sou.”
Quando nos deparamos com as fragilidades dos nossos amigos, costumamos
considerar como um desafio, mas nunca deveria chegar ao ponto de nos
desestimular. Acho que não é possível explicar o “por que” que aquela pessoa nos
escolheu como amigo, pois é Deus mesmo cuidando, protegendo, nos dando a sua
misericórdia e nos convidando à santidade. Quando procuramos a amizade não a
encontramos, porque a amizade verdadeira não é objeto de procura. Acredito que é
Deus mesmo que cuida de despertar em nós todo o potencial humano e sua graça
utiliza-se das nossas capacidades humanas, tais como: a percepção, a intuição, o
esvaziamento, humildade e a disposição para sairmos de nós mesmos e acolhermos o
dom da vida de quem deseja estreitar a relação conosco. Quando caçamos a amizade
ela nos escorre pelos dedos, não a alcançamos porque ela se encontra
primeiramente dentro de nós. Reconhecemos essencialmente no mais profundo do
nosso coração, aquela identidade que comunga com quem começa a viver conosco o
período de conquista da amizade.
Não é possível que a amizade seja autêntica e transparente quando não
deixamos que o próprio coração tenha sentido a necessidade de reconhecer o outro
como alguém que parece trazer consigo aquelas disposições necessárias para
conosco construir uma amizade. É pobreza de coração e de personalidade chamar
alguém de amigo quando ainda de fato não o é. Quem se apressa a chamar o outro
de amigo quando não houve tempo ainda para o amadurecimento da escolha, da
confiança e da prova do amor, não compreende de fato a amizade como um exercício
que exige tempo, purificação e fidelidade à verdade, portanto, não está mesmo
preparado para viver a amizade que atinge a profundidade e a maturidade, mas a
vive na superficialidade.
Muitas vezes temos necessidade de evidenciar a amizade, não para celebrá-la
por gratuidade, mas para fugir da sensação de angústia e dor de não termos
amigos de verdade, amigos que foram conquistados, cultivados e inseridos no
nosso ser mais profundo pelo próprio amor de Deus. Quem não trilha esse caminho
acaba construindo amizades vulgares e medíocres, interesseiras e incapazes de
permanecerem quando chega o tempo da adversidade. Nessa condição o amigo é amigo
enquanto dele sempre consigo extrair algo, talvez usufruir daquilo que satisfaz
as minhas próprias carências.
Temos necessidade de amizades verdadeiras que promovam a felicidade e a
liberdade de ser quem somos na esperança de que Deus seja o centro e nos ajude a
viver a partilha e a comunicação, e então essa amizade em Deus pode amenizar a
adversidade, a dor e a solidão que tantas vezes nos pesa na alma, próprios do
caminho da purificação e do amadurecimento da liberdade interior. Que o Senhor
Jesus seja “o amigo de nossas almas” e nos ajude a vivermos o dom da amizade, e
a vivê-la de forma autêntica, humana, divina, profética e escatológica. Que a
Virgem Maria interceda por todos nós, chamados à amizade com Deus, o autor dos
encontros felizes.
Antonio Marcos
(Blog Antonio Marocs –
http://antoniomarcosaquino.blogspot.com.br/search/?q=amizade)
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Grupo de Oração Água viva mais de 30 anos evangelizandoSe alguém tiver sede venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva (Jo 7, 37s).
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